quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Teatro Mágico - A Metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo

Ainda no clima do show d'O Teatro Mágico e de despedida do Segundo Ato resolvi variar um pouco e venho falar hoje de uma poesia. Ela está presente no álbum Segundo Ato e logo no nome deixa de cara que estamos vendo algo um pouco diferente, afinal qual poesia deixa você escolher o nome que mais lhe agrada? O titulo dela é A Metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo, ou seja, você escolhe o que mais gostar e usa. Como naquelas revistas especiais, que veem com mais de uma capa para você escolher a capa que você quer.
Acho genial a forma que o Fernando Anitelli brinca com as palavras, sem deixar de lado a profundidade do assunto tratado na poesia.
Estou ansioso para ver ela ser declamada durante o show, deve ser uma experiência interessante. Como já foi falado pelo pessoal da banda neste show de despedida, será tocado o álbum Segundo Ato por completo, então acredito que esta poesia não ficara de fora não.



Este vídeo é um extra do DVD Segundo Ato e quem tiver interesse em ouvir a versão que vem no álbum com os efeitos sonoros pode conferir aqui.

Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, in(f)vertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se
A cria que se crie! 
A dona que se dane!

Os insetos interiores proliferam-se assim... na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.

E assim, animais ou menos assim...
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...
Caem.

Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam. Não alma. 
Já não mais amor.

Assim são: 
Os insetos interiores.

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